O
texto seguinte é um excerto do livro de Jean Pierre VERDET, Uma História da Astronomia,
página 144, 1991, Jorge Zahar Editora Ltda. Tal excerto tenta nos dar uma ideia
das impressões e pensamentos de Isaac Newton a respeito daquela Lei que viria a
ser conhecida como Lei da Atração
Gravitacional.
Primeiros vislumbres da
gravitação
É
nessa época que se situa o episódio da maçã. A anedota, embora haja sido
contada pelo próprio Newton, é muitas vezes tida por lendária pelos pedagogos,
que preferem nem tocar no caso. Lendária ou real, é no entanto exemplar, não
que se deduz daí que basta sonhar ao luar, debaixo de uma macieira, para
descobrir uma lei tão fundamental como a da gravitação universal – e sim porque
ela nos revela o núcleo irredutível, espantoso em sua simplicidade, dessa
descoberta: colocar uma questão de tal modo elementar, como “Por que a lua não
cai como essa maçã?” e entrever a resposta paradoxal e genial: “A cada instante
a lua cai na direção da Terra” e a órbita da lua ao redor da Terra é apenas o
compromisso entre essa queda constante e a tendência – o conatus de movimento
- de correr em linha reta no universo. Colocar isso em forma e daí extrair os
Principia é inteiramente outra questão... que o ocupará durante vinte anos, mas
é evidente que, de estalo, Newton se fez a pergunta fundamental: a queda dos
corpos, cujas leis nos foram dadas por Galileu, e a revolução da lua ao redor
da Terra, segundo as regras empíricas de Kepler, obedecem por acaso à mesma lei
física?
Persuadido
de que as coisas se passavam bem assim, Newton supôs que, já que a lua está
sessenta vezes mais distante do centro da Terra do que a maçã, por uma relação
inversa do quadrado ela devia ter uma aceleração de queda livre 3600 vezes mais
fraca que a maçã. Como evidentemente ela não caia, era preciso supor que sua
aceleração centrífuga compensava a do peso. Questão cuja resposta passava pelo
cálculo efetivo da força centrífuga no caso do sistema Terra-Lua. Nessa época,
em 1667 ou 1668, Newton não tinha condições de chegar a uma conclusão. Diz-se,
com frequência, que essa incapacidade provisória estaria ligada à imprecisão de
um dos dados numéricos: o valor do raio da Terra. Entretanto, a essa
dificuldade deveria somar-se outra, anulatória, que Newton não podia resolver
na época: mostrar que a lua e a Terra podiam ser consideradas como dois objetos
pontuais afetados pelas massas respectivas dos dois astros. Por outro lado, em
1671, o abade Jean Picard daria um valor aproximado para esse raio e seus
trabalhos seriam apresentados e discutidos na Royal Society no ano seguinte. Ora,
seria necessário esperar até 1684 para que Newton retomasse seus trabalhos
sobre a gravitação. De qualquer modo, em 1668 Newton se absteve de concluir e
guardou zelosamente o segredo de suas primeiras reflexões sobre a gravitação;
pagará, por isso, mais tarde com novas contendas, dessa vez com Robert Hooke.
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